Anne Brontë, 163 após sua morte

Anne Brontë

Anne Brontë ou Acton Bell (pseudônimo) foi uma escritora inglesa, irmã caçula de Charlotte e Emily Brontë, é mais conhecida pelos trabalhos Agnes Grey (1847) e The Tenant of Wildfell Hall (1848), ambos os trabalhos são considerados os mais conservadores entre as irmãs. A família Brontë até os dias de hoje inspira muitas pesquisas e estudos, Charlotte, a irmã mais velha, é caracterizada como a mais ambiciosa, já Emily é marcada por sua ‘genialidade’. Anne tem sido descrita por muitos como ‘moderada’ e menos talentosa, mas seus romances eram bem afiados e irônicos.

Anne Brontë nasceu em Thornton, Yorkshire no dia 17 de janeiro de 1820, filha mais nova dos seis filhos do Reverendo Patrick Brontë e Maria Brontë. Foi educada sua vida inteira basicamente em casa. Após a morte de sua mãe em 1821 e suas irmãs mais velhas Maria e Elizabeth ambas em 1825 (no espaço de um mês uma da outra) de tuberculose adquirida em Clergy’s Daughter School, Anne, suas irmãs Charlotte e Emily e seu irmão Branwell foram deixados aos cuidados da tia Elizabeth Branwell, e a criada da família Tabitha Aycroyd. A principal educação que as irmãs tiveram foi no presbitério de Haworth, onde foram morar após a morte de sua mãe. Elas liam a Bíblia, Homer, Virgílio, Shakespeare, Lord Byron, Scott e muitos outros autores e, também examinavam artigos da Blackwood’s Edinburgh Magazine, Fraser’s Magazine e The Edinburgh Review.

Iniciação no mundo literário

Inspirados pelos doze soldados de madeira que ganharam de seu pai, as crianças criaram histórias e lendas associadas com a África. Com esses contos os irmãos Brontës quebravam aquela rotina monótona que tinham, pois transportavam suas alegrias e decepções em seus romances. Emily e Anne criaram sua própria saga chamada Gondal, enquanto que Charlotte e Branwell escreviam em mini cadernos sobre seu mundo imaginário de Angria.

Em 1839 Anne trabalhou durante um curto período como preceptora na casa dos Ingham em Blake Hall, mais além ocupou a mesma posição na casa dos Robinsons em Thorpe Green Hall, próximo a York entre 1840 e 1845. Seu irmão Branwell se juntou a ela na casa dos Robinsons para trabalhar como tutor do primogênito da família, Edmund, em 1843. Mas Branwell acabou se apaixonando pela Sra. Robinson, o que resultou na demissão de ambos Branwell e Anne. Mas essa não foi a última vez que ouvimos falar de Thorp Green Hall. Anne imortalizou sua passagem pela mansão no seu primeiro romance Agnes Grey (1847).

William Weightman

Ao retornar a Haworth Anne se deparou com o novo curador do seu pai. William Weightman começou a trabalhar na paróquia em agosto de 1839, ele tinha 26 anos de idade e era formado em teologia pela Universidade de Durham. Anne e William trocaram muitas cartas e poemas o que sugere que ela tenha se apaixonado profundamente por ele.

William Weightman levantou muita curiosidade sobre quem ele era e se ele e Anne tiveram ou não algo. É certo dizer que ele era um homem bonito, atraente, cujo humor e bondade para com as irmãs Brontës nos faz ter uma impressão bem considerável sobre sua pessoa. Sabemos que ele enviou cartões de dia dos namorados em Fevereiro de 1840 para elas e uma amiga de Charlotte, Ellen Nussey, que estava visitando. William morreu de cólera em 1842. Anne expressa seu sofrimento pela morte de William com o poema abaixo:

Para…

Eu não vou lamentar por ti, querido,
Embora tua vida tenha sido arrancada.
Conta-se que o sol da manhã
Aparece com um raio ofuscante
E derrama um feixe de luz brilhante e ardente
Através do mar refulgente,
E antes do meio-dia o brilho alegre desaparece
Envolto em nuvens e chuva.

E se tua vida mostrou-se transitória,
Ela foi cheia de brilho,
Porque tu foste confiante e querido;
Teu espírito não conheceu desânimo.

Se poucas e breves foram as alegrias da vida
Que tu pudeste conhecer na terra,
Pouco tu conheceste de pecado e luta
Nem muito de sofrimento e tristeza.

Se vãs tuas esperanças terrenas provaram-se,
Tu não podes lamentar a fuga delas;
Tuas mais brilhantes esperanças foram firmadas acima
E não conhecerão ruína.

Eu ainda não posso controlar meus suspiros,
Tu eras tão jovem e belo,
Mais brilhante que o céu de uma manhã de verão,
Mas a morte inflexível não iria te poupar;

Ele não iria passar pela sua querida
Nem se permitiria uma hora de atraso,
Mas brutalmente fechou seus brilhantes olhos
E apagou seu sorriso distante.

Aquele sorriso de anjo que ultimamente tanto
Podia alegrar meu coração apaixonado;
Silenciado está o seu som
E a música da tua voz.

Eu não mais chorarei tua morte prematura,
Mas oh! Eu ainda deverei lamentar
Os prazeres enterrados em tua sepultura
Porque eles não voltarão.

Anne Brontë

Anne amava sua vida fora de Haworth e, após sua demissão de Thorp Green Hall ela teve motivos para se sentir decepcionada e, as vezes, se mostrava até amarga, uma característica aversa àquela garota que todos chamavam de meiga. Branwell acabou se tornando um alcoólatra e caiu em declínio físico, faleceu em Setembro de 1848 de tuberculose, doença que foi mascarada devido ao seu alto consumo de álcool e ópio. Nesse mesmo ano Anne publicou seu segundo romance The Tenant of Wildfell Hall, no qual uma das personagens principais, Arthur Huntingdon, é um alcoólatra.

The Tenant of Wildfell Hall foi publicado em três volumes e vendeu super bem. Um crítico considerou o romance “totalmente impróprio de se ser colocado em mãos de moças” o que, é claro, só aumentou mais a curiosidade sobre o trabalho. Na história, a bela Helen Graham foge de sua confortável mansão onde mora com seu marido [alcoólatra] Arthur Huntingdon e seu filho Arthur para Wildfell Hall. Wildfell Hall é a propriedade do irmão de Helen, uma mansão da era Elizabethana, construída com pedras escuras e frias. Gilbert Markham, um fazendeiro local e, o primeiro narrador do romance, se apaixona por ela. No seu diário Helen oferece um outro ponto de vista da história e revela e desintegração do seu casamento e adota novamente seu nome de solteira, Sra. Graham. Quando seu marido morre, o caminho fica livre para que Helen se case com Gilbert. A franca representação do alcoolismo de Arthur Huntingdon e a luta de Helen para se livrar desse peso foram considerados por alguns críticos como assunto inapropriado para mulheres.

Anne adoeceu de tuberculose logo após a publicação do seu segundo trabalho, ela morreu no dia 28 de maio de 1849 em Scarborough, onde foi enterrada.

Por muitos anos Anne Brontë tem sido lembrada primeiramente como a “terceira irmã Brontë”. Seu trabalho ainda é esquecido por muitos. Isso tem ocorrido em uma larga escala porque Anne é muito diferente de Charlotte e Emily, como pessoa e como escritora. Os olhos controladores e refletivos de Agnes Grey (1847) é bem mais parecido com Persuasion (1817) de Jane Austen do que com Jane Eyre (1847) de Charlotte Brontë. O realismo cruel e a crítica social em The Tenant of Wildfell Hall (1848) opõe diretamente à violência romantizada de Wuthering Heights (1847) de Emily Brontë. As preocupações religiosas de Anne, refletidas em seus livros e expressados diretamente em seus poemas, não eram preocupações que Charlotte e Emily tinham. Agora com o aumento crítico de interesse em autores femininos, sua vida está sendo re-examinada e seu trabalho re-avaliado.